Experimentei todos os tipos de argumentos para lutar contra algo que já tinha autonomia. Algo que ganhou vida própria dentro de outra pessoa.
Barganhas, chantagens emocionais, idas e vindas, omissão, submissão, apelo, raiva, amor, carinho, desprezo.
Dei todos os tipos de sentimentos possíveis e, na mesma medida, o vício foi só crescendo. A culpa tomou conta da minha vida e ela me movia.
Enquanto estamos à deriva, sozinhos, lutando por algo que não nos pertence, o outro se resigna e progride em sua obstinada ilusão. A maldita droga. São caminhos totalmente distintos, mas o fim é o mesmo, tanto para o usuário, quanto para os que convivem com ele.
Passei a viver em uma espécie de mundo paralelo.
As pessoas em minha volta tornaram-se enormes ETs enquanto o meu objetivo de vida era somente um: o mais impossível de todos os que poderia escolher, mas proporcionalmente instigante a me levar cegamente ao seu encontro.
É como correr atrás das borboletas, é correr atrás do vento.
Foi preciso muitos espinhos para eu começar a enxergar as rosas.
Foram inúmeras noites em claro a espera do pior.
Foram finais de semana intermináveis desejando a morte dele como alívio para a minha dor e era só ele voltar para eu me esquecer de tudo.
Me afastei das pessoas, deixei de gostar de passeios simples, abdiquei de alguns sonhos. Nada na minha vida tinha mais importância ou sentido.
Dentro de casa me tornei a pessoa mais insuportável de se conviver.
Na tentativa de mascarar a crise eu arrumava, limpava, organizava compulsivamente. Já que não podia controlá-lo, poderia manter as coisas limpas e no lugar.
Enquanto o vício dele era a cocaína, o meu era ele.
Até que me vi sendo arrancada de sua vida da forma mais inesperada possível.
Eu que me julgava ser tão imprescindível, fui traída, fui preterida.
Já não tinha mais o mesmo encanto, o mesmo brilho no olhar. Eu morri.
Há tempos já tinha me afastado dele. Eu o desprezava.Eu me desprezava.
Foram muitas despedidas e reencontros, mas a droga, esta nunca deixou de existir entre nós dois. A muralha mais intransponível.
Mulheres... Essas nem doíam mais. Mas a droga? Essa me matou aos poucos.
Então... Eu decidi me resgatar. Decidi dizer não para aquela vida.
Dizer não para tanta ausência, tanta falta de compromisso e cumplicidade, tanta falta de amor próprio.
Decidi encarar o meu problema de frente e aceitar que fui conivente no meu papel de esposa. Fui mais uma cúmplice diária.
Ele foi até onde permiti que fosse e o meu amor incondicional quase nos matou.
Hoje eu quero vida, custe o que custar eu vou lutar por ela.
Eu me preparo todos os dias para as chantagens emocionais, para a vitimização, para a tortura psicológica e ainda não consegui romper o vínculo afetivo ao ponto de não mais atender os seus telefonemas. Ele jura que vai mudar... Mas quem decidiu mudar fui eu.
Eu o amo, eu sei. Mas até que ponto a doença afetou meus sentimentos? Preciso entender a bagunça que ficou dentro de mim para saber o que ficou de verdade.
Enquanto as pessoas me viam perdendo coisas, eu perdia a minha identidade. Coisas não eram nada, absolutamente nada!
Estou fazendo tudo no meu tempo.
Os meus familiares me cobram uma atitude diferente, mas o passo que dei foi um salto.
Os meus familiares me cobram uma atitude diferente, mas o passo que dei foi um salto.
Eu saí do centro do campo minado. Estou olhando por outros horizontes. Mudei as minhas perspectivas. Estou me transformando dia a dia. Se alguns tem que ser forte, eu tenho que ser o dobro, então não preciso de julgamentos.
Tem dias que acordo triste e sinto saudades dos momentos que valeram a pena. Sim! Alguns valeram e muito! Mas não compensaram todas as mágoas, ressentimentos e desespero que vivi. Então NÃO!
Só por hoje... Não vou desistir das rosas só por que senti seus espinhos!
Estou fazendo o caminho de volta para o meu encontro, pois sei que estou me esperando! Espero que outras soFridas se encontrem também! Nos encontramos!
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